O QUE É RENATURALIZAÇÃO?
Renaturalizar significa voltar ao natural, em outras palavras, em se tratando de recursos hídricos, a renaturalização nada mais é do que a volta às características naturais do rio, com intervenções que visam promover um aspecto natural que favorece tanto a harmonia paisagística quanto a flora e a fauna do corpo d´água. A renaturalização procura estabelecer um equilíbrio entre os limites e peculiaridades de um ambiente urbanizado e um ambiente mais natural. Também visa a preservação ou recuperação das áreas naturais de recarga e inundação.
Rio Han na Coréia do Sul, a menos de dez anos atrás era como nosso rio Tietê.
Durante muito tempo, a estratégia da engenharia fluvial e hidráulica esteve orientada no sentido de retificar o leito dos rios e córregos, para que suas vazões fossem dirigidas para jusante pelo caminho mais curto e com a maior velocidade de escoamento possível. Os objetivos principais visavam ganhar novas terras para a agricultura, novas áreas para a urbanização e minimizar os efeitos locais das cheias.
A realização de obras com base naquela concepção teve consequências não consideradas ou avaliadas como sendo negligenciáveis no planejamento: a variedade de biota foi reduzida de uma maneira alarmante e as cheias hoje causam prejuízos cada vez maiores.
É natural do ser humano estabelecer sua morada próximo a cursos d’água pois, a água é imprescindível para nossas vidas. Além de questão de sobrevivência, ela é utilizada em várias atividades do nosso dia a dia.
Apesar de vital, esse recurso natural está bastante degradado no ambiente urbano. O processo de urbanização infelizmente tem ocorrido de maneira desordenada, gerando problemas graves.
Um sério problema é a impermeabilização do solo, que é provocada tanto pelas construções de casas, comércios ou indústrias quanto pela pavimentação de ruas e calçadas. Ela eleva o escoamento superficial durante o período chuvoso, que natural ou artificialmente flui para a parte mais baixa que são os córregos e rios. Para facilitar o processo de escoamento, são criadas as galerias de água pluviais, mas, na maior parte das vezes, até mesmo por questão de custo, a água não é direcionada da maneira correta para os corpos d’água, o que faz com que ela chegue com muita energia, destruindo completamente o leito do manancial e suas margens, provocando assoreamento e consequentemente as enchentes.
A OCUPAÇÃO INDEVIDA DE ÁREAS URBANAS
Um outro transtorno grave, gerado pela urbanização desordenada, são as ocupações de fundo de vale, que subtraem a mata ciliar, tornando a margem desprotegida, gerando mais focos de desmoronamento. O depósito de entulhos de construção, lixo e esgoto também facilitam a proliferação de vetores de doenças como mosquitos, ratos, baratas, escorpiões e outros. A canalização aumenta a velocidade da água e consequentemente o seu poder de destruição a jusante, além de propiciar a ocupação de áreas sujeitas a inundação, o que leva aos prejuízos materiais e imateriais que sempre vemos nos noticiários durante a estação chuvosa. A canalização também extermina a biota dos rios e das baixadas pois a água corre sobre concreto, tanto nas suas laterais quanto na parte do fundo. Na pressa de se dar uma resposta ágil à população, o poder público vai pela via mais rápida e não necessariamente mais barata: as canalizações e retificações.
A renaturalização de rios não significa a volta a uma paisagem original não influenciada pelo homem, mas corresponde ao desenvolvimento sustentável dos rios e da paisagem em conformidade com as necessidades e conhecimentos contemporâneos.
No processo de renaturalização existem estudos profundos nos locais a serem renaturalizados que levam em considerações os limites impostos pela urbanização que dificilmente podem ser ultrapassados. Por isso, a implementação de projetos voltados para a renaturalização de rios exige a disponibilidade de áreas e novos conceitos na engenharia hidráulica e de planejamento territorial.
‘Rio Tietê antes e agora’
Dentre alguns pontos que destacamos no processo de renaturalização está a remoção das canalizações que são trocadas por quebra-correntes de gabiões e pedras. Troncos de árvores podem ser utilizadas para a proteção das margens. As barragens podem servir para controle do fluxo de água no rio mas ao invés de comportas e vertedouros se usam tentos transversais, que facilitam a migração de espécies. Em certos casos até mesmo a retificação do leito do rio é desfeita, retornando em alguns pontos as curvas, que diminuem a velocidade da água no leito do rio e aumentam a área disponível para inundação, o que também favorecem a biota.
A renaturalização eleva a qualidade de vida dos habitantes dos ambientes urbanos e rurais, além de promover uma elevação da biota disponível no rio. Todos só temos a ganhar e a natureza agradece.