Despoluição de rios é possível
Frequentemente somos questionados se existem meios de despoluirmos os rios da Região Metropolitana de São Paulo. Entendemos que há métodos, modelos e exemplos para serem avaliados e implementados, o que não podemos admitir, é não ser realizado nada de efetivo para recuperação dos recursos hídricos que dispomos.
Com o objetivo de incrementar o universo de possibilidades, identificamos um exemplo muito interessante de como despoluir rios. Trata-se da revitalização do Canal Paco, nas Filipinas, exemplo de descontaminação com engajamento, ousadia e baixo custo.
A poluição dos rios que cortam as cidades configura um dos mais graves problemas de saúde do planeta. Os cursos d’água urbanos recebem esgoto (doméstico e industrial), e também resíduos de toda ordem, oriundos da chamada poluição difusa.
Os custos para a despoluição são altos e envolvem processos demorados, cujos resultados muitas vezes não ocorrem na mesma geração. Por isso mesmo, os projetos de despoluição requerem excelência profissional, seriedade administrativa, envolvimento, empenho e firme compromisso do poder público e do setor privado, além do apoio e participação de toda a comunidade.
Toda essa complexidade, no entanto, permite iniciativas criativas e não impede que se busque novas fórmulas alternativas, desde que envolvidas em firme compromisso.
Chama atenção este projeto audacioso e pioneiro hoje em curso nas Filipinas.
Criado e executado pela empresa privada escocesa, o projeto demonstra que é possível despoluir um rio com baixo custo e vontade política.
O Canal Paco era considerado irrecuperável, um esgoto a céu aberto. Hoje, é referência positiva na paisagem de Manilla – Capital das Filipinas.
A empresa desenvolveu um sistema de tratamento de água ecológico, de fácil implantação em rios, canais e lagos contaminados. O projeto não apenas processou a recuperação do Canal Paco, mas também transformou todo o entorno do curso, meio físico e comunidade.
O sistema implantado consistiu na instalação de “jardins flutuantes” – ilhas artificiais de aproximadamente 110 m², cobertas por plantas aquáticas capazes de filtrar os poluentes sem a utilização de produtos químicos.
O custo da despoluição por esse sistema é menor que a metade do custo com estações de tratamento de águas residuais convencionais, devido à integração e ativação do ambiente fluvial circundante.
O sucesso do empreendimento de descontaminação, no entanto, deveu-se a dois fatores essenciais:
- 1- obras de infraestrutura para evitar o despejo de resíduos no local e
- 2- instalação de um reator de aeração, capaz de adicionar ar à água e introduzir no ecossistema uma bactéria que se alimenta de poluentes.
O apoio efetivo do Poder Público e o engajamento da comunidade local para o processo natural de restauração da biodiversidade do canal produziu resultados mais rápidos que qualquer outro sistema convencional utilizado atualmente.
O tempo de construção das ilhas artificiais, ao contrário das obras civis de concreto, é medido em semanas, em vez de meses.
Ver as fotos do canal Paco hoje e como era antes da implantação do sistema, nos remete ao mesmo problema hoje enfrentado pelos rios, lagos e canais das grandes cidades brasileiras.
O problema, no caso do Brasil, é a enorme indefinição de objetivos e métodos. Outro fator que impressiona é o preconceito dos agentes públicos face a tudo que é novo, ainda que não atenda a todos os requisitos pretendidos.
O sistema de aeração no canal, para introdução de bactéria, por exemplo, já foi pretendido e rejeitado na Cidade de São Paulo – no canal do Rio Pinheiros, proibido por medida judicial…
Talvez, observando o que outros países emergentes têm conseguido, no campo da despoluição e recuperação ambiental, nossos dirigentes e os diversos atores sociais percebam que o novo faz parte da busca para o desenvolvimento sustentável.