Vida, morte e revitalização do nosso Rio Tietê

Desde 2005, o INSP – Instituto Navega São Paulo acompanha a lenta evolução, do Projeto Tietê. Tudo começou para o instituto quando a criação da calha do Rio tietê, na região metropolitana estava sendo finalizada e a população demonstrou interesse em aproximar-se do esquecido rio, e assim o INSP, disponibilizou a navegação com monitores para pequenos grupos de professores, estudantes, pesquisadores, imprensa e demais interessados em saber um pouco mais sobre o Rio Verdadeiro. Mas infelizmente, de lá para os dias de hoje, não temos muito a comemorar no dia do nosso generoso Rio.

Retrospectiva

O Tietê, com seus 1.150 km de extensão, é o maior rio do estado de São Paulo. Mas, na região metropolitana, é um dos mais poluídos do mundo e está completamente morto. O que causou tanto estrago foi a expansão desordenada da cidade e o consequente despejo de esgotos residenciais, industriais diretamente no rio e a poluição difusa que por incrível que pareça ainda ocorre impunimente.

Para limpar a bacia hidrográfica que corta a cidade paulistana, seria necessário melhorar o sistema de canalização da região. Com esse objetivo, em 1992, foi criado o Projeto Tietê, administrado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Durante a primeira etapa do programa, que se estendeu até 2000, foram construídas três estações de tratamento de água (que se somaram às duas já existentes), além de tubulações para a coleta e o transporte de dejetos. Segundo a Sabesp, com o fim dessa primeira fase de despoluição, o índice de coleta de esgotos na região metropolitana de São Paulo passou de 63% para 80% e o índice de tratamento aumentou de 20% para 62%.

Entre 2002 e 2009, na segunda etapa do projeto, houve um aumento da rede de coletores (tubos que recolhem o esgoto) e interceptores (tubulações que ficam na margem dos rios e impedem que o lixo seja despejado nele). Hoje, a região metropolitana tem 84% do esgoto coletado e, desses, 70% é tratado.

Despoluição do Tietê já custou R$ 8,1 bilhões e está longe de acabar…

Governo ainda terá que gastar R$ 4 bilhões nos próximos anos para limpar o maior rio de São Paulo; água poderia ser usada contra seca.

O projeto de despoluição do Rio Tietê, que corta quase todo o estado de São Paulo, começou há 24 anos e já consumiu US$ 2,65 bilhões (o equivalente a R$ 8,1 bilhões, em valores atuais), entre investimentos do governo do estado e de organismos internacionais. Para que o rio deixe de ser considerado morto em um trecho que atravessa a capital paulista e parte da Grande São Paulo ainda serão necessários 10 anos de obras e um investimento de cerca de R$ 4 bilhões.

Inicialmente, o projeto de despoluição terminaria em 2022, mas o prazo foi estendido em três anos. Em setembro de 2012, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a anunciar que o rio estaria sem cheiro e seria habitado por algumas espécies de peixes em 2015. Mas basta uma volta de carro pela congestionada Marginal Tietê para concluir que isso não aconteceu: o rio continua sujo e, em alguns trechos com cheiro forte.

Especialistas dizem que projetos de despoluição de rios costumam mesmo demorar décadas, embora reconheçam que há atrasos no cronograma paulista. Destacamos que o projeto é importante, principalmente para que o estado enfrente a crise de falta d’água que começou ano passado. Se o Tietê estivesse limpo, sua água poderia ser bombeada pelo Rio Pinheiros, também poluído, para a Represa Billings.

Mudou a lógica da sociedade em relação à década de 1990, quando o projeto começou. Antes, era uma questão de deixar de ter vergonha do rio. Depois, passou a ser de ter integração do rio com a cidade. E agora é algo à frente: São Paulo precisa da água do Tietê para beber. Não dá para dizer que São Paulo não tem água. São Paulo não tem água de qualidade.

Entendemos que para alcançar sucesso, os responsáveis pelo projeto precisam articular suas ações com projetos de coleta de lixo e tratamento de esgoto de diferentes municípios da Grande São Paulo. Até hoje, indústrias e residências da Grande São Paulo jogam seus esgotos sem tratamento direto no Tietê.

A degradação do rio começou na década de 1940, devido ao crescimento populacional de São Paulo e da instalação de indústrias que não tratavam esgoto na Zona Norte da capital e em municípios da Região Metropolitana. A utilização do rio como um espaço de lazer e disputa de regatas perdeu espaço definitivamente após 1957, quando foram inauguradas as avenidas marginais.

A primeira fase do projeto Tietê, entre 1992 e 1998, consumiu US$ 1,1 bilhão. A segunda etapa, entre 2000 e 2008, custou outros US$ 500 milhões. A fase seguinte, de 2009 a 2015, foi orçada em US$ 1,05 bilhão. O objetivo desta etapa é elevar a coleta de esgotos na região metropolitana de 85% para 87% e ampliar o serviço de tratamento de esgotos de 78% para 84%. A quarta fase é orçada em R$ 4 bilhões e deve acabar em 2025, segundo a Sabesp.

Mas efetivamente, não há previsão para que 100% do esgoto produzido na metrópole seja tratado, já que nem mesmo nos países mais desenvolvidos isso acontece. No Reino Unido, por exemplo, o índice está em 92%. Também é um erro comparar o projeto de despoluição do Tietê ao que ocorreu em rios como o Sena (na França) e o Tâmisa (na Inglaterra). “O projeto de limpeza do Sena durou mais de 70 anos. Também tem que se levar em conta que a população da cidade de São Paulo é de 19 milhões de habitantes, contra os 8 milhões de Paris. Além disso, os dois rios são muito diferentes. A vasão do francês é de 50 mil litros por segundo e o do Tietê é de apenas 34”. Explica Carlos Eduardo Carrela, superintendente de Gestão de Projetos Especiais da Sabesp. A vazão é o volume de água que corre pelo rio a cada segundo e, quanto maior, mais fácil seu processo de auto-limpeza. Por causa de todos esses fatores, é impossível prever se um dia será possível ver peixes na parte do Tietê que corta a cidade de São Paulo. “O problema é que há muitas ligações clandestinas de esgoto, que não passam pelos coletores e vão direto para o rio ou para as galerias pluviais. É preciso que a população se conscientize do seu papel”, afirma Carlos Eduardo Carrela. O superintendente ainda explica que, se o rio parar de receber sujeira, a despoluição acontece naturalmente, por meio do mecanismo de auto-limpeza, que dissolve os poluentes e oxigena a água. Apesar da dificuldade em despoluir a região metropolitana, no interior do estado ela já pode ser percebida.

Antes do início do Projeto Tietê, o rio estava morto até na região de Barra Bonita, a cerca de 250 km da capital. Depois do fim da primeira etapa de limpeza, a mancha de poluição recuou 120 km e peixes voltaram a aparecer na barragem da cidade. “Com o fim da segunda fase, esperamos que daqui a um ou dois anos a mancha recue mais 40 km, até a região de Salto, a 100 km da capital”, está é a previsão, mas na realidade, o Tietê estava “morto” por 71 km, entre as cidades de Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, antes da grave estiagem que atingiu São Paulo. A falta de água, que dificulta a diluição do esgoto que chega ao rio, fez mais do que dobrar a área contaminada.

A mancha de poluição do rio Tietê recuou um pouco depois do fim da crise hídrica, mas segue muito maior do que entre 2013 e 2014 –quando foi atingida a melhor marca do programa de despoluição.

Com isso, entre 2014 e 2015, 154,7 km do rio estavam sem oxigênio para a sobrevivência das espécies, área que se estendia de Mogi das Cruzes (Grande SP) a Cabreúva.

Agora, segundo monitoramento da ONG SOS Mata Atlântica que será divulgado nesta quinta (22), a mancha de poluição recuou 11,5% –tem 137 km de extensão, de Itaquaquecetuba (Grande SP) a Cabreúva, no interior.

Entendemos que o saneamento básico não resolve, sozinho, o problema de poluição do rio Tietê. Precisamos desenvolver uma gestão integrada, que, além do saneamento, envolva restauração florestal, retirada de moradias irregulares e o engajamento de todos os segmentos da sociedade.